Galã das 18h, Marco Pigossi se orgulha da carreira construída aos poucos: 'Tive a chance de errar'


RIO - Aos 25 anos, Marco Pigossi acredita que essa é a idade determinante na vida das pessoas.

— Não dá mais para largar tudo e começar de novo. Com 18, 19, é mais tranquilo, mas quando você chega aos 25, pensa que não dá mais tempo — argumenta o ator, no ar como o piloto Rafael em “Boogie Oogie”.

Felizmente, Pigossi fez sua escolha certeira há tempos. Mais precisamente aos 13 anos, quando começou a estudar teatro. O primeiro contato com o meio artístico, ele relembra, aconteceu por acaso. O pai de um amigo do prédio onde o ator morava, em São Paulo, era cinegrafista, e levou os então meninos para um teste.

— Na hora fiquei supertravado, mas saí pensando em fazer teatro. Comecei na escola e depois fui fazendo outros cursos. Só não tenho bacharelado.

Em cima do palco, diz, foi a primeira vez que sentiu que estava no lugar certo na hora certa.

— Não fazia menor ideia se estava bom ou uma porcaria, mas você sentir isso... Quando muito, são pouquíssimas vezes na vida. Tem gente que nunca sente — avalia.

Por isso, nem pensou muito — aliás, “nada” — quando, aos 17 anos, precisou decidir entre continuar a natação ou investir nas aulas de teatro. Ele chegou a ser nadador profissional. Participou de campeonatos nacionais e foi vice-campeão paulista em 2005, pelo clube Athletico Paulistano.

— Eu ia ter que dobrar os treinos, mas nem passou pela minha cabeça continuar. O teatro expandiu meus horizontes. A partir dele conheci um novo mundo.

Os convites para a TV não tardaram a aparecer. Mas, até chegar aonde está, ele não cortou caminho, por assim dizer. Começou em 2004 na minissérie “Um só coração”. Fez “Eterna magia” (2007) e “Queridos amigos” (2008) até ficar famoso como o Cássio de “Caras e bocas” (2009). O personagem, um gay divertido, fez fama com bordões como “estou rosa-chiclete” e “choquei”.

— As pessoas me abordam até hoje para falar dele. E muita gente não me reconhece de um trabalho para outro. Nunca me importei em ficar conhecido com um personagem gay, o artista tem que ser minimamente livre de preconceitos — analisa.

'SEMPRE DEI O PASSO DO TAMANHO DA PERNA'

De lá até aqui, Pigossi esteve em “Ti-ti-ti” (2010), “Fina estampa” (2011), “Gabriela” (2012) e “Sangue bom” (2013). Ou seja, o ator já passou por todos os horários, em vários tipos de formato. Algo que ele considera bom.

— Acho ótimo porque, na verdade, eu tive chance de errar. E pude arriscar, porque foi devagar. O artista quando não tem margem de erro fica muito limitado e preso, e isso é péssimo, ? Tudo na vida quando é feito aos poucos e pensado é muito mais interessante do que aquela loucura. Eu sempre dei o passo do tamanho da perna, gosto de pensar assim — reflete ele, que estava escalado para ser o Bruno de “O rebu”, quando foi remanejado para o elenco da trama das 18h, de Ruy Vilhena.

Autora de quatro dos trabalhos de Pigossi., Maria Adelaide Amaral acha que o rapaz tem talento e vocação.

— É um profissional dedicado. Tem humildade suficiente para aprender e coragem para se superar — descreve: — Ele não se acomoda nas zonas de conforto. Pigossi se transforma a cada papel. Foi um excelente vilão em “Ti-ti-ti” e um herói adorável em “Sangue bom”.

Agora, em “Boogie oogie”, Pigossi prefere dizer que está na condição de galã. Não que ele veja problema no rótulo, mas acha que é um status que “vem com a obra e depois morre”. Agora, uma das maiores preocupações do ator foi distanciar o personagem atual de Bento, o tal “herói adorável” de “Sangue bom".

— O Rafael é um cara prático, que perdeu os pais, e não dá espaço para o sentimentalismo. Essa praticidade é muito masculina, né? O cara vai, aí viu que fez cagada, e volta (risos). Gosta da Vitória (Bianca Bin), mas nunca pensou que sentiria algo tão forte pela Sandra (Isis Valverde).

Para compreender mais a cabeça do personagem, Pigossi conversou com pilotos e voou bastante com eles.

— O Rafael como piloto tem isso, essa relação com a liberdade. Não pode ser um cara preso. O mais próximo que tenho disso é a com a moto.

'EU ME DOU BEM COM ADRENALINA'

Sim, Pigossi é aficionado por motos. Ainda adolescente, ganhou a primeira com presente de Natal, do pai. Passou o dia dando voltas pelo condomínio onde morava. Hoje em dia, costuma fazer grandes passeios ao lado do pai, o cirurgião Oswaldo Pigossi. O último foi em fevereiro deste ano, quando passaram 36 dias rodando 13 mil quilômetros pelo norte da América do Sul. No restante das férias, Pigossi passou três meses na Europa.

— Eu me dou bem a adrenalina. É uma injeção de vida, e é gostoso se sentir vivo. O teatro dá isso. Cinco minutos antes de entrar em cena, você pensa: “O que estou fazendo aqui?”. O mesmo sentimento que deve passar pela cabeça de quem pula de paraquedas (risos). Depois que você vai é inacreditável. São poucos momentos na vida em que a gente consegue desligar. Na moto, você não pensa no que ficou para trás, mas está ligado no que vem adiante.

Para separar dever de lazer, Pigossi prefere não usar a moto no dia a dia. De vez em quando, costuma encontrar o pai, que mora em São Paulo, em Penedo (RJ).

— Eu saio do Rio, ele de São Paulo, e a gente se encontra no meio do caminho para um almoço — comenta. — É lazer. Se tiver horário para chegar, você perde todo o prazer, e a moto vira um meio de transporte perigoso.

ELE MORA SOZINHO E LAVA ROUPA

Porque da mesma forma que se dá bem com a adrenalina, Pigossi também se confessa um fã da disciplina. Aos domingos, fala, costuma passar das 10h às 18h estudando para a novela. No Dia dos Pais, por exemplo, ficou em casa.

— É o único tempo livre que tenho para me organizar. Chego em casa à noite, depois de gravar três frentes, e não tenho condições de decorar um texto. E não é decorar, né? Rafael toma todo meu tempo, ele é milimetricamente construído. Longe de reclamar, ser ator é a melhor profissão do mundo.

Para Walcyr Carrasco, autor de “Caras & bocas” e “Gabriela”, tal empenho levará Pigossi longe.

— Ele é um ator dedicado, que faz também teatro e está preparado para qualquer papel, do dramático ao cômico. Tem uma grande carreira pela frente, sem dúvida está entre os melhores — classifica.

Para se manter nesse rol, Pigossi diz ser necessário tomar cuidado para não se transformar “naquele macarrão que fica boiando por dias e vira um nhoque”.

— Tem que criar, se reinventar — ensina ele, que procura participar de uma peça sempre que termina uma novela. Dessa última vez, não conseguiu.

— Sabe esse negócio chamado Copa do Mundo? Pois é, o teatro que já vinha engatinhando, parou. Estou me coçando para voltar, mas fazer peça e novela ao mesmo tempo é desumano. Já fiz e jurei que nunca mais faria. Teatro é minha grande paixão, algo em que penso o tempo inteiro.

Nessas folgas que tem, Pigossi gosta de retornar à cidade natal, ficar com a família. No Rio, mora sozinho. Como dono de casa, se vira cozinhando um filé de frango e costuma lavar a roupa. A faxina, no entanto, é terceirizada.

— Gosto de ter liberdade em casa, contrato uma empresa que faz essa limpeza. Não tenho talento para o espanador. Até por morar sozinho meu modo de vestir é prático. Tiro a roupa da máquina, e passo com um steamer antes de sair de casa — comenta ele, que deixou a casa dos pais em 2007, na época de “Eterna magia”.

'FAÇO O QUE EU QUERO'

Embora não seja visto frequentemente em sites de celebridade, o ator não se esconde. Muito pelo contrário, ele avisa: “faço o que eu quero”.

— Como eu não comecei como galã, talvez não tenha esse público atrás de mim. Mas estou em alguns lugares, sim, me divertindo e curtindo.

Para ele, a profissão demanda uma ordem a ser seguida. E, nessa equação, o glamour passa longe. De verdade, garante.

— Não é frescura, não. É barra pesada. Digo, de novo, é a melhor profissão do mundo, mas são oito meses de muita dedicação. E eu acho que existe uma ordem. A parte da fama e das festas vem atrás. Se você inverte... Está errado.

Fonte: O Globo.

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